Por: Andreia Soares Calçada psicóloga clínica e jurídica. Perita do TJ/RJ em varas de família e assistente técnica judicial em varas de família e criminais em todo o Brasil. Mestre em sistemas de resolução de conflitos. Autora de livros e artigos na área jurídica.
Mesmo que a prática de marcar o corpo seja tão antiga quanto a própria humanidade, a tatuagem no Brasil é algo relativamente recente. Foi na década de sessenta que se instalou nas zonas portuárias e por isso foi associada à marginalidade. Com o passar dos anos, ganhou status artístico e popularidade com a introdução de técnicas mais modernas que reforçaram a ideia de uma expressão individual, conquistando cada vez mais espaço na sociedade, independente de sexo, idade e classe social.
A tatuagem pode ser uma forma importante de expressão de um momento da vida da pessoa, daquilo que pode estar acontecendo naquele período. Vira algo simbólico de uma fase que pode ser de tristeza, alegria, superação, entre outros sentimentos. Por isso é importante que quem a faça, tenha a certeza de que realmente quer aquele desenho já que vai ficar impresso na pele pelo resto da vida.
O ato tem que ser muito bem pensado já que o nosso estado de espírito muda. Se um dia a pessoa está muito triste e faz a tatuagem com esse viés, pode ser que daqui algum tempo, com outro estado de espírito, ela veja aquela tatuagem e não a reconheça e não se identifique. Tatuagem é algo que não pode ser feito de forma impulsiva, ela precisa ser refletida, pensada, entender qual o simbolismo. Importante sempre fazer o questionamento. “Será que vou conseguir lidar com ela o resto da vida?”.
Por isso o cuidado deve ser maior com pessoas mais jovens. No caso de adolescentes, mesmo que autorizados pelos pais, o tatuador deve sempre ter certeza se seu cliente está seguro. Nesta fase de vida, os jovens ainda são reféns do grupo social. Nesta fase, eles se separam da identidade dos pais e constroem a sua própria a partir das amizades. Vão muito pelo modismo. Importante os responsáveis, antes de autorizarem, fazerem os filhos refletirem sobre o assunto. Não há uma idade ideal, mas se a decisão for após os 18 anos, início da fase adulta, acho que a chance de arrependimentos pode ser menor.
É importante a pessoa avaliar também se o ato de gravar desenhos pelo corpo não está ligado a esconder um vazio interno. Isso acontece muito quando há excessos. É importante que não se rotule. Nem todo mundo que faz tatuagem pelo corpo, está enfrentando problemas emocionais. Mas toda forma de compulsão deve ser olhada com atenção. Muitas pessoas acabam sentindo muita necessidade de preencher aquele espaço vazio na pele e isso pode ser um conflito interno que não está sendo resolvido. Quando faz a tatuagem se sente bem, passado um tempo faz outra para o bem estar voltar. Isso não resolve o vazio, o conflito. Daqui a pouco o corpo está todo tatuado e a pessoa está infeliz.
Mas com a grande maioria, felizmente isso não acontece. Com o passar dos anos, houve uma melhora em relação ao preconceito em relação à tatuagem. Antigamente ela era associada a um comportamento anti social, a marginalidade. Hoje, as gerações mais novas amam e lidam de forma diferente, mesmo que as mais velhas ainda tenham mais dificuldade de aceitar. Acredito que em alguns setores do mercado de trabalho e núcleos familiares ainda geram problemas. Hoje vemos muitas pessoas tatuadas nas mais variadas profissões. O mais importante é ter a certeza do que se quer. O autoconhecimento é o melhor caminho. Se a pessoa está em dúvida, o melhor é esperar mais um tempo, para ver se o desejo de se tatuar permanece. Esperar o impulso passar e se a vontade continuar, seguir em frente.