Por Renata Bento. Psicanalista e psicóloga. Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Membro da International Psychoanalytical Association – UK.Membro da Federación Psicoanalítica de América Latina – Fepal. Especialização em Psicologia clínica com criança PUC-RJ. Perita ad hoc do TJ/Rj – RJ. Assistente Técnica em processo judicial. Especialista em família, adulto, adolescente.
No mundo contemporâneo, a internet e as redes sociais desempenham um papel cada vez mais influente no comportamento dos adolescentes. Atualmente tem se observado entre os adolescentes a prática de envio e/ou pedidos de fotos, vídeos de nudez ou apenas de partes do corpo; são os chamados nudes ou sexting. O termo sexting surgiu da junção entre “sex” (sexo) e “text” (texting) ou, sexo por mensagem de texto. De forma mais ampla, significa o envio de fotos, vídeos e áudios de conteúdo erótico e sexual.
Tem-se notícias de que essa forma de comunicação, criada por jovens, surgiu nos Estados Unidos em 2005 e chegou ao Brasil em 2009, ou seja, é um fenômeno também no auge de sua ‘adolescência’, bem da idade dos nossos jovens hoje. É importante ressaltar que esse tipo de prática ocorre com meninos e meninas, entretanto, é mais comum que as meninas tenham suas fotos expostas.
Há uma dificuldade nessa época em lidar com a sexualidade e com a própria agressividade, ou seja, com tudo o que se sente com a chegada da puberdade, onde se observa as mudanças do corpo, e a instabilidade emocional. Fazer o luto da infância, do corpo infantil, rumo a construção da identidade e com as emoções à flor da pele, é um trabalho doloroso.
O compartilhamento de nudes vem ocorrendo, sem uma compreensão adequada das implicações, como a possibilidade de compartilhamento não autorizado, o vazamento de imagens íntimas e a exploração sexual. Isso pode levar a consequências devastadoras, como bullying online, chantagem e impactos psicológicos negativos.
Esse comportamento tem gerado debates acalorados, à medida que as novas gerações exploram a interseção entre tecnologia, intimidade e privacidade. Com a chegada da inteligência artificial, podem ser criadas facilmente, fotografias falsas, a partir de partes reais dos corpos de uma pessoa, e divulgadas como sendo verdadeiras. Também podem ser criadas mensagens de texto, vídeos com rosto e voz idênticas a uma determinada pessoa.
É muito comum os pais chegarem aflitos no consultório, depois de terem visto ou sabido sobre mensagens recebidas ou enviadas dos filhos (as) para grupos ou amigos (as), que continham “teor adulto”; ou ainda preocupados e/ou, surpresos pelo fato de terem sido chamados na escola para serem notificados sobre o que o(a) filho(a) tem escrito, recebido e compartilhado ultimamente. Episódios como esse têm ocorrido com frequência e têm sido observados cada vez mais cedo, em idades que antecedem a adolescência entre 10 e 12 anos, às vezes ainda mais precocemente.
Nem biológica nem emocionalmente as crianças, mesmo que as vésperas da adolescência, possuem competência para lidar com situações do mundo adulto; há ainda uma grande confusão de identidade para ser elaborada. Nesse sentido, a internet é uma arma perigosa, quando não se sabe utilizá-la de modo positivo.
A pressão dos colegas e a busca por aceitação social também desempenham um papel significativo no comportamento dos adolescentes. A pressão para enviar nudes pode levar a situações desconfortáveis em que os adolescentes se sentem compelidos a fazer algo que não desejam apenas para se encaixar no grupo ou evitar o estigma social. É fundamental que os pais, educadores e a sociedade em geral estejam cientes dessas dinâmicas e ofereçam apoio e orientação aos adolescentes.
Para abordar esse problema de forma eficaz, é importante promover a educação sobre segurança online, consentimento e respeito pela privacidade desde cedo. Os adolescentes devem ser incentivados a comunicar qualquer experiência negativa ou preocupação relacionada ao compartilhamento de nudes, sabendo que serão ouvidos e apoiados.
Além disso, as plataformas de redes sociais e aplicativos de mensagens devem desempenhar um papel ativo na proteção da privacidade dos usuários e na prevenção do compartilhamento não consensual de conteúdo íntimo. Políticas de segurança mais rigorosas e ferramentas de denúncia eficazes são essenciais.
Falar sobre sexualidade não é explicar ao filho (a) como é ter uma relação sexual. Isso ele (a) saberá fazer quando chegar a hora, além das conversas entre amigos, sobre o assunto; não é uma conversa erótica ou que erotiza, ao contrário, conversar sobre sexualidade fortalece emocionalmente as crianças e jovens e contribui para o amadurecimento emocional, para que não se deixem afetar negativamente por uma erotização desenfreada e vazia, para que nessa travessia solitária da adolescência consigam fazer melhores escolhas.
Em suma, a prática de compartilhar nudes na internet e nas redes sociais é um reflexo das complexidades do mundo digital. É crucial abordar esse comportamento com empatia, educação e medidas de proteção, para que os adolescentes possam explorar a internet de forma segura, consciente e responsável, sem comprometer sua privacidade e bem-estar e também a privacidade do outro.