Quando a palavra do ano, eleita pelo prestigiado dicionário de Oxford, é sobre o desastre que vem ocorrendo com o consumo irrestrito de informações rápidas e rasas nas redes sociais, um alerta deve ser considerado. Segundo o dicionário, a procura pelo termo Brain Rot cresceu 230% em 2024. Ao pé da letra, Brain Rot significa “cérebro podre” e alguns centros de saúde nos Estados Unidos já oferecem tratamento para o problema, que pode se manifestar como neblina mental, letargia, redução da capacidade de atenção, declínio cognitivo, entre outros sintomas.
O Impacto do Brain Rot em Crianças e Adolescentes
Se o “apodrecimento cerebral“, alertado pelo dicionário Oxford, é um problema sério para os cérebros adultos, imagine-se o prejuízo desastroso quando o conceito se aplica a cérebros ainda em formação para o “status de leitor”, como é o caso de nossas crianças e adolescentes.
A expressão “status de leitor” foi criada pela neurocientista Maryanne Wolf, autora do best-seller O Cérebro Leitor, publicado no Brasil pela editora Contexto.
A pesquisadora alerta sobre a necessidade de equilibrar a leitura digital com a de livros impressos, pois estes favorecem o que ela chama de “leitura profunda”. A preocupação de Maryanne é:
“Se não compreendermos as significativas contribuições e as necessidades de um cérebro que realiza leituras profundas, poderemos perdê-lo – algo que trará consequências para todos os membros de uma sociedade democrática.”
O Uso Excessivo de Telas e Seus Prejuízos
O temor da professora Wolf se apresenta em resultados de estudos recentes que mostram os prejuízos ao cérebro devido ao uso exagerado de telas e telinhas. Entre os prejuízos detectados estão o declínio do desempenho escolar e, o pior, problemas de socialização, como o bullying digital, que afeta as meninas majoritariamente.
É terrível constatar o aumento significativo de suicídios de adolescentes em todo o mundo.
A Proibição de Celulares nas Escolas
Um em cada quatro países já aderiu à proibição. O Brasil chegou agora, mas no Reino Unido os celulares foram banidos das escolas há quase três anos.
Os resultados positivos dessa onda anti-telas ainda não podem ser plenamente mensurados, embora estudos recentes apontem que o banimento das telinhas já está gerando melhora no desempenho escolar e na redução do bullying.
Mas o caminho é longo para que seja encontrado o ponto de equilíbrio entre mais leitura de livros de verdade e o entretenimento digital.
A Importância da Leitura para o Desenvolvimento Cognitivo
Na opinião de Carmen de Labra Pinedo, professora de fisiologia da Universidade da Corunha, na Espanha, a leitura de livros melhora a memória e a capacidade de reter informações, entre outros benefícios neurológicos.
“Na era das redes sociais, o tempo que passamos lendo um livro diminuiu significativamente, principalmente entre crianças e adolescentes que têm maior probabilidade de passar horas em plataformas como TikTok ou Instagram. No entanto, a neurociência revela que a leitura de livros tem efeitos muito mais positivos e duradouros no cérebro em comparação com o consumo de conteúdo nas redes”, diz a professora.
O Impacto da Infância Digital
O psicólogo social Jonathan Haidt, autor do livro A Geração Ansiosa, diz que hoje em dia temos uma infância baseada no celular, ao invés de uma infância baseada no brincar.
Este livro explica por que a saúde mental dos adolescentes entrou em colapso ao mesmo tempo e da mesma forma em tantos países no início da década de 2010, e o que podemos fazer para reverter essas tendências alarmantes.
O Desafio de Equilibrar Leitura e Entretenimento Digital
A ideia dos estudiosos do assunto não é a de simplesmente banir o acesso a conteúdos na internet, especialmente num tempo em que a tecnologia digital se estabeleceu na realidade de nossas vidas, mas é preciso encontrar o ponto de equilíbrio entre ler e brincar, para que a leitura se torne interessante para ser implementada na rotina.
Com a proibição de celulares nas escolas, há um grande potencial para que crianças e adolescentes tenham maior interesse por livros, mas estes devem ser cativantes. Um desafio para autores e editoras.
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