Empreender em nova era política e econômica

Empreender em nova era política e econômica

Por Silvina Ramal. Mestre em Administração de Empresas pela PUC RJ – Empreendedora – Pós graduada em comércio internacional pela UFRJ. Autora de 11 livros sobre empreendedorismo e gestão “Como Transformar seu Talento em um Negócio de Sucesso” “Mulheres Líderes e Empreendedorass” e livros escritos para o Telecurso TEC da Fundação Roberto Marinho sobre Gestao de Pequenos Negócios e Administração.

O povo brasileiro é tradicionalmente um povo empreendedor. Em 2020, o Brasil subiu da décima terceira para sétima posição do ranking mundial de empreendedorismo do Global Entrepreneurship Monitor. A pesquisa do GEM, realizada desde 1999, é considerada referência no mundo e avalia o espírito empreendedor de diferentes países. Dados do Sebrae mostram que três em cada dez brasileiros adultos possuem empresa ou estão envolvidos com a criação de um negócio próprio. Essa taxa é maior que a de países como China, Estados Unidos e Índia. No entanto, nem tudo são flores. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, 600 mil empresas fecharam as portas durante os dois anos da pandemia.

Muitos empreendedores devem estar se perguntando: é momento de empreender ou não? Afinal, vivemos tempos de incerteza. A alta volatilidade que afeta a Bolsa de Valores brasileira desde 2021 reflete a incerteza das grandes empresas que lutam para retomar o crescimento e muitas vezes têm seus esforços frustrados. É fato que os consumidores estão com pouco dinheiro para gastar e cautelosos. No exterior, a guerra na Europa e a crise energética tornam os mercados externos ainda mais instáveis, e para completar o cenário fala-se da ameaça de uma nova pandemia a qualquer momento. A resposta é: sempre é tempo de empreender, e sempre haverá fatores desfavoráveis ao empreendedor.

 Não lembro de um tempo em que tivesse lido análises econômicas ou estatísticas apenas com dados positivos ou prognósticos de futuro otimistas. Mas onde estão as oportunidades? Vamos ver alguns exemplos que saltam aos olhos mais atentos ou treinados. Em primeiro lugar, o mercado de artigos para casa. Desde antes da pandemia, as pessoas passavam mais tempo em suas casas, e é claro que o lockdown potencializou esse hábito. Isso faz com que invistam mais no lugar da moradia. Seja com decoração, segurança, conforto para familiares, amigos e animais domésticos, montagem de um ambiente de trabalho. As casas conectadas deixaram de ser uma promessa futura, cada vez mais temos não só eletrodomésticos inteligentes e conectados como soluções especializadas nessa área. Além de ficar mais em casa, muitos estão trabalhando em home office, o que reforçou o senso de comunidade.

Os negócios de bairro fazem parte do exército de 15.4 milhões de pequenos negócios registrados em 2019, os quais geram mais da metade dos empregos formais do país. Consumidores se voltam hoje para o comércio de seu bairro não só para consumir e estabelecer um relacionamento duradouro, mas também para apoiar e divulgar o trabalho através de redes de WhatsApp e Instagram. Abundam as indicações para amigos e conhecidos. Hashtags do tipo #comprelocal são cada vez mais populares nas redes sociais. Outra oportunidade se apresenta na demanda de clientes por soluções integradas e personalizadas. Os clientes tendem a comprar pacotes fechados que permitam tomar o mínimo de decisões e se preocupar pouco com detalhes. Por exemplo, pais compram uma festa de aniversário para os filhos. Mas cabe ao organizador da casa de festas subcontratar outras tantas empresas que fornecerão decoração, comidas e bebidas, animação. Os pais querem chegar no dia e surpreender-se com uma festa que reflete o que tinham imaginado mas não lhes tomou muito tempo.

O mercado de soluções que unem personalização, integração e conveniência tem um vasto terreno para percorrer ainda e permite trabalhar com boas margens de lucro. E que tal falar dos marketplace, como Amazon ou Mercado Livre? Em crescimento acelerado desde 2020, a tendência é que continuem aumentando sua influência e surjam novos concorrentes. Um empreendedor pode oferecer seus produtos e serviços nesses ambientes beneficiando-se da estrutura de navegação e das informações sobre comportamento do consumidor que eles disponibilizam para seus usuários. Com isso, vender pela internet desde a sala da casa, embora envolva desafios significativos, se tornou mais viável e barato. Para quem é especialista em tecnologia, a fronteira continua expandindo-se.

 Para citar apenas alguns exemplos, aplicativos de machine learning ou soluções de exibição volumétrica serão cada vez mais procurados por empresas nos próximos anos. Já para quem é da área de Humanas, por um lado temos o mercado de produção de conteúdo continuará em franco crescimento. Artistas, consultores, profissionais liberais precisam consolidar sua presença nas redes sociais, demandando o trabalho destes profissionais. Por outro lado, a busca por autoconhecimento gera oportunidades para psicólogos e profissionais de terapias alternativas, enquanto a possibilidade de continuar aprendendo coisas novas na internet tornou-se um mercado atraente para professores e especialistas.

Seria impossível esgotar a lista de oportunidades que se abriram nos últimos anos para empreendedores. Não estou dizendo que são tempos fáceis, mas faz muito tempo que vivemos tempos difíceis dependendo do ângulo de nossa análise, e em todas as épocas pessoas criativas encontraram um caminho de sucesso. Sempre é tempo para otimismo para quem está disposto a trabalhar com qualidade e compromisso.

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