Por Adyr de Paula, autor da peça ‘Aos Sábados’, que estreia nova temporada em abril no Teatro Fashion Mall.
O Dia Mundial do Teatro é comemorado em 27 de março, data da inauguração do Teatro das Nações, em Paris, em 1962. A data é uma forma de destacar a importância do teatro em todas as suas formas e manifestações.
Aos 14 anos eu vivi como espectador a experiência de ir ao teatro pela primeira vez e fiquei encantado com toda aquela magia. Desde esse dia o teatro para mim sempre foi mais do que entretenimento. Acho que ele é a arte da generosidade. Nele nos enxergamos, nos reconhecemos, nos compadecemos e rimos de nós mesmos, e através dele temos a oportunidade de nos transformar e evoluir como sociedade.
Aos 54 anos resolvi escrever uma peça teatral sobre a história da minha mãe porque queria deixar um registro da sua edificante trajetória de vida para os seus irmãos, que ela deixou em Manaus ainda muito jovem, e para os seus nove netos. Achava também que o público em geral iria se emocionar com uma mulher tão corajosa e determinada. E também porque precisava me curar de tanta dor acumulada durante os 16 anos em que ela lutou bravamente contra os efeitos degenerativos da doença de Alzheimer. Escrever ‘Aos Sábados’ foi uma terapia, um mergulho profundo nas minhas próprias entranhas. Uma verdadeira catarse que só o teatro poderia me proporcionar.
Em 2020 me inscrevi no I Concurso de Dramaturgia Flávio Migliaccio e fui premiado entre os autores de mais de 120 textos de teatro de todo o Brasil. Lembro que ao ler a primeira crítica que a peça recebeu (que consta no livro ‘Rio Bonito’, da Editora Funilaria, que publicou os três textos vencedores), chorei copiosamente. Era uma chancela, um aval concedido a mim por grandes profissionais de teatro. Eles estavam me dizendo: “Nós fomos tocados, parabéns, vá em frente!” Era o que eu precisava para arregaçar as mangas e produzir a peça.
Mas levar a peça aos palcos não foi fácil. A maior dificuldade para realizar o sonho de encenar ‘Aos Sábados’ foi a falta de incentivo, seja do poder público ou privado. Produzir uma peça de teatro, como tudo nesse país, é muito caro. Como era a minha primeira vez como autor e produtor, tive que financiar o meu projeto. Resolvi investir na minha emoção, no meu sorriso e nas minhas lágrimas, sem depender de ninguém. Foi uma sábia e maravilhosa decisão!
Para quem deseja se aventurar a escrever um texto teatral dou um conselho: escreva com o coração. Dessa maneira, desafie e inquiete o público. Por vezes, deixe-o desconfortável na poltrona, leve-o à reflexão e seja generoso fazendo-o rir e chorar numa mesma cena. Essa é a magia do teatro! Vamos celebrar o Dia Mundial do Teatro apoiando e valorizando esta forma de arte que nos emociona, desafia e nos conecta.
Foto: acervo pessoal.