O novo governo e o empreendedorismo

O novo governo e o empreendedorismo

Por Silvana Ramal. Mestre em Administração de Empresas pela PUC RJ – Empreendedora. Pós graduada em comércio internacional pela UFRJ. Autora de 11 livros sobre empreendedorismo e gestão – “Como Transformar seu Talento  em um Negócio de Sucesso” “Mulheres Líderes e Empreendedores” .

Períodos de transição são sempre desafiadores porque em geral vamos de um lugar conhecido e confortável para outro desconhecido, que fica no futuro e não sabemos ao certo que resultados vão trazer. A incerteza só aumenta se a transição envolve uma eleição presidencial, com parte do povo nas ruas protestando contra o resultado e a equipe de transição avançando lentamente.

Vejo que muitos consultores indicam que agora é o momento de planejar o ano seguinte, e normalmente é isso que fazemos nesse período: verificamos os resultados obtidos no ano que termina e nos planejamos para o ano que vai começar. Não vejo, no entanto, como planejar para um ano que ainda não temos claro como será. Por enquanto, o melhor é não fazer grandes mudanças nem planos no seu negócio. A palavra do momento é cautela e espera.

Conheço um especialista em mercado financeiro que diz que a maior armadilha para os investidores amadores é achar que não estão trabalhando quando ficam apenas olhando para a tela sem investir. É nesse momento, quando precisam provar a si mesmos que estão trabalhando, quando provocam os maiores prejuízos. O investidor experiente sabe que seu trabalho consiste em não fazer nada boa parte do tempo, guardando-se para os ventos positivos.

A máxima vale para empreendedores e gestores de negócios. Neste período após as eleições, muitos talvez estejam preparando a mudança para outro país enquanto outros, entusiasmados com o resultado das urnas, façam grandes investimentos no futuro cor de rosa que foi vislumbrado durante a campanha. Mas a verdade é que os dois estão tomando decisões baseados em um cenário que só existe na imaginação por enquanto.

Um governo novo traz impactos, pois a gestão da economia determinará o ambiente de negócios em que vamos nos mover. É importante ficar atento aos nomes do Ministério da Fazenda e da Economia, e ver o que os analistas dizem a respeito deles. Esses nomes já são um indicativo de qual orientação será preponderante na gestão das contas do país.

Por exemplo, podemos ter um ano com inflação controlada e juros altos, com um Governo apertando o próprio cinto e reduzindo gastos de maneira geral em nome da estabilidade e do equilíbrio das contas públicas. Ou então ele pode optar por abrir os cofres, realizando obras, mantendo ou até aumentando o valor dos benefícios sociais, transferindo renda para o setor privado e para a população. O gasto público elevado sempre traz alguns meses de bonança. As pessoas têm mais dinheiro para gastar, e se sentem alegres e otimistas.

A questão é: por quanto tempo se consegue manter esse período de bonança? Em algum momento é preciso fechar as torneiras, ou então é preciso endividar-se ou emitir dinheiro para mantê-las abertas, o que gera desvalorização da moeda e inflação. Épocas de inflação alta são muito desanimadoras. O dinheiro perde poder de compra, as pessoas empobrecem. É por isso que, embora queiram gastar e trazer bonança, os Governos precisam trabalhar dentro de certo equilíbrio. O que fazer enquanto não temos um horizonte claro à frente? Esperar, com muita paciência e cautela. Não é momento de fazer investimentos, contratações, ao contrário, é preciso cortar custos, mantendo a estrutura o mais enxuta possível. Nada de movimentos bruscos ou grandes mudanças.

Em momentos como esse, ficar quieto e observar são movimentos estratégicos mais acertados. Não fazer nada também é uma ação, embora não pareça. E é fundamental para qualquer negócio em determinados períodos. Situações de indefinição terminam, e logo será possível planejar e investir, ou não, tendo à frente um horizonte mais claro e preciso.

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