Por Andreia Calçada. Psicóloga clínica e jurídica. Perita do TJ/RJ em varas de família e assistente técnica judicial em varas de família e criminais em todo o Brasil e Mestre em sistemas de resolução de conflitos.
Entre os países da América Latina, o Brasil é um dos mais conectados nas redes sociais por causa da democratização da internet. Com isso ocorreu uma aumento na divulgação de fotos, vídeos e hábitos dos filhos pelos pais nas plataformas digitais. Com a facilidade de disseminação do conteúdo, em minutos, uma imagem ou vídeo pode ser acessada, curtida e compartilhada milhares de vezes.
Segundo a pesquisadora Stacey Steinberg, “muitas vezes existe uma desconexão entre o que pais e filhos consideram aceitável de se publicar”. Ela diz que: “Nossa visão do que pode agradar nossos filhos é diferente da visão deles. Sendo conscientes disso, também seremos conscientes dos demais riscos de compartilhar informações online e estaremos no caminho certo”.
A prática, conhecida como oversharenting, é um termo em inglês que significa o compartilhamento excessivo pelos pais, de imagens da rotina e hábitos dos filhos nas redes sociais. Mas os pais podem ser responsabilizados pela superexposição das imagens das crianças e adolescentes nas redes sociais? Se levarmos em conta que o direito à imagem está atrelado aos direitos fundamentais e que diante da prática do oversharenting há violação destes, os pais podem responder por abuso de direito e serem responsabilizados civilmente pelos danos ocasionados aos seus filhos.
Outra pergunta a se fazer é: se publicassem isto sobre mim, será que eu iria gostar?
Essa pergunta vale em particular para pais que publicam fotos e vídeos dos filhos tendo ataques de birra, chorando ou se “portando mal”. Esses vídeos podem ser engraçados ou bem intencionados, mas, arquivados eternamente na internet, podem no futuro virar motivo de vergonha para as crianças e adolescentes. De acordo com publicação no site da BBC alguns questionamentos podem ser levantados: antes de postar filhos fazendo algo ‘desfavorável’, é bom pensar: eu gostaria que fizessem isso comigo?
A pesquisadora Steinberg diz que “Devemos pensar em como eles se sentirão quando abrirem nosso feed nas redes sociais e virem o que foi postado sobre eles 10, 15 anos antes. E quando compartilhamos coisas que podem ser embaraçosas para eles, devemos pensar como nos sentiríamos se compartilhassem coisas do tipo sobre nós mesmos”.
Em entrevistas com mil jovens do Reino Unido de 12 a 16 anos, uma pesquisa identificou que 40% deles disseram que seus pais já haviam compartilhado fotos embaraçosas. Compartilhar uma ‘avalanche’ de fotos e vídeos dos filhos não só expõe a identidade deles a qualquer internauta, como também pode comprometer as relações familiares e de amizade entre pais e filhos. Esta exposição pode ter consequências para os menores de idade como: serem alvo de cyberbullying, pedófilos e investidas mercadológicas.
Proteger os dados de menores e garantir a sua privacidade é fundamental hoje em dia e deve ser uma preocupação importante tanto para os pais quanto para os filhos.