Por: André Lima – Neurologista, membro da Academia Brasileira de Neurologia e Diretor Médico da Neurovida
A desorientação dos pacientes com Alzheimer, e outros tipos de demência, é um dos principais motivos de fugas e consequentes desaparecimentos de idosos no Brasil. Por isso os familiares que cuidam e moram com pessoas diagnosticadas com essa doença devem ter cuidados redobrados para evitar fugas, entre outros acidentes. Para promover os cuidados com a saúde mental foi criado o Setembro Lilás.
Segundo o site do governo do estado de São Paulo, são registrados mensalmente cerca de 80 desaparecimentos de pessoas com idade acima de 65 anos, sendo o principal motivo doenças como o Alzheimer. De acordo com a Alzheimer’s Association, dos Estados Unidos, seis a cada dez pessoas com demência vão andar sem rumo em algum momento.
O Alzheimer é uma das doenças degenerativas do cérebro que mais crescem entre os idosos. Hoje é uma das formas mais comuns de demência, responsável, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), por 60 a 70% dos casos. A doença manifesta-se através de uma demência progressiva, os sintomas começam lentamente e se intensificam ao longo dos anos. É um conjunto de sintomas que provoca alterações do funcionamento cognitivo (memória, linguagem, planejamento e habilidades visuais-espaciais), físico (problemas de marcha e deglutição) e também do comportamento (apatia, agitação, agressividade, delírios, entre outros), limitando progressivamente a pessoa nas suas atividades diárias.
Com o aumento da longevidade da população, apesar das pessoas com 70/75 anos ainda estarem ativas, trabalhando, deve-se lembrar que o cérebro tem um prazo de validade, o cérebro envelhece. A tendência é aumentar o número de casos de pessoas com Alzheimer e outras doenças cognitivas.
O cuidador do paciente com Alzheimer deve ter cuidados redobrados na hora que chamamos de ‘problema do pôr do sol’. Nesse horário, entre 16h/17h, quando começa a escurecer, o paciente tende a dizer que quer ir para a casa dele, já que ele não reconhece o local de moradia atual. Ele tende a fugir, prática muito comum e os cuidados são manter sempre a porta de casa trancada, sem a chave e também ter cuidados com os acidentes domésticos, porque o paciente pode ficar agitado e ter alucinações achando que tem alguém ou alguma coisa atrás de um móvel e tentar empurrá-lo.
A doença de Alzheimer não tem cura e a percepção dos primeiros sintomas se dá quando o idoso começa a ter esquecimentos simples, trocar o nome dos familiares, repetir a mesma história ou pergunta várias vezes, mudar o comportamento ou ter um comportamento não adequado. O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento que tem por objetivo frear o progresso da doença.
A doença é dividida em três fases: inicial, moderada e avançada e em cada fase os sintomas vão se intensificando até chegar na fase em que o doente vai precisar de um acompanhamento constante. A doença é progressiva. O tempo de uma fase para outra vai depender de cada paciente e dos cuidados dedicados a ele.
Cuidar da saúde com a prática de exercícios físicos, que aumenta o fluxo de sangue no cérebro e a oxigenação, proporcionando uma melhor irrigação em áreas do cérebro que estavam hipoativas, trazendo um ganho no raciocínio. Manter a mente ativa, trabalhar a memória com jogos de tabuleiro, de cartas, quebra-cabeça, palavras-cruzadas e videogames, melhoram a coordenação motora, a agilidade, o raciocínio lógico e até um melhor convívio social, ajudando a diminuir o declínio cognitivo. Ouvir música, ler, ver filmes, aprender novos idiomas, tudo isso ativa o cérebro. A estimulação mental melhora as funções cerebrais e protege contra o declínio cognitivo.
Além disso, devemos ter uma boa alimentação, não fumar, dormir bem, beber socialmente e ir ao médico regularmente. Essas são algumas medidas que podemos adotar para ter uma vida saudável.
Quem cuida também deve ser cuidado
Mas devemos cuidar não apenas do doente com Alzheimer, mas também de quem cuida desse doente. A saúde do cuidador é muito importante. Junto com os doentes cresce o número de familiares cuidadores que possuem sua rotina afetada pela doença. É comum o cuidador desenvolver doenças originadas pelo estresse. Exaustão, problemas físicos, depressão, insônia, irritação e falta de concentração são alguns dos sintomas. O estresse gera tanto problemas físicos como psicológicos devido à sobrecarga de tarefas que aumenta com a evolução da doença, podendo provocar, por exemplo, um infarto ou uma piora em um quadro de diabetes para aqueles cuidadores que já tem a doença.
Algumas dicas podem ajudar o cuidador a diminuir o estresse diário. Uma delas é aumentar o conhecimento sobre a doença, isso faz com que o familiar se prepare para as etapas do processo de demência, encarando as dificuldades de maneira mais prática. É importante que a pessoa tenha um sono reparador, pratique atividades físicas, tire um momento para si, mantenha uma rotina com amigos, medite, exercite a espiritualidade e se preciso participe de grupos de apoio.
Cuidar de um paciente com Alzheimer não é fácil e os cuidados com são essenciais para que ele tenha conforto. O convívio familiar também é muito importante. Sempre observar as mudanças de comportamento, ter cuidados com a higiene para evitar infecções, não entrar em conflitos e principalmente ter muita paciência e amor.
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